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Milaré

Dia Nacional da Caatinga – 28 de abril

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O “Dia da Caatinga” é comemorado desde 2003 na data 28 de abril. Lembra o nascimento do ecólogo João de Vasconcelos Sobrinho (1908- 1989), pioneiro nos estudos do bioma. A caatinga é um bioma brasileiro, caracterizado por um clima árido e semiárido, e possui aproximadamente 9,5 milhões de hectares. É o bioma mais rico em biodiversidade do Brasil, mas é também o que apresenta o menor índice de ocupação humana. 

A caatinga é um bioma brasileiro único e representa um importante patrimônio natural do país. Infelizmente, ela está ameaçada pelo desmatamento e pelo avanço das atividades agrícolas e vem sofrendo também com as mudanças climáticas, que estão tornando o clima cada vez mais árido e desfavorável à sobrevivência das espécies nativas.

Assim, o Dia Nacional da Caatinga é uma data para celebração e reflexão, servindo como um lembrete da importância de preservar este bioma tão especial e único, presente nas mais diversas manifestações artísticas em nosso país, especialmente em consagrados textos literários.  

Caatinga e literatura, brevemente

A caatinga (do tupi-guarani “floresta branca”) em nossa literatura não aparece com essa designação em grande número de textos.

É, no entanto, necessário observar que, a despeito disso, suas características e o fato de ser um bioma existente só em nosso país, têm desde sempre determinado o feitio brasileiro de parte considerável de nossa população. O homem — sabe-se — é fruto do seu meio; é esse meio que garante sua subsistência, possibilitando sua alimentação, como vestir-se para enfrentar o clima geralmente agressivo e o faz distinto em sua fala e pronúncia, propicia a criação de lendas e, com seu folclore, registra fundamente o que ele é; tem muito a ver com sua visão de mundo. O homem da caatinga resulta de tudo isso.

Impossível, por isso, que não apareça em textos literários, historicamente o mais importante testemunho da presença do homem neste universo em constante evolução.

A presença da caatinga em textos literários registra bastante o que ela foi, o que é agora e aponta o que poderá ser em futuro não muito distante, com a linguagem da recriação literária. Infelizmente quase sempre expondo conflitos e perdas.

Em Os Sertões, no tópico As caatingas, Euclides da Cunha (1866- 1909) se detém diante da paisagem inóspita com esta observação: ” (… a travessia das veredas é mais exaustiva que a de uma estepe nua (…) Nesta ao menos o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva de planuras franca. Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; repulsa-o com as folhas urticantes , com o espinho , com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se -lhe na frente léguas e léguas , imutável no aspecto desolador , árvores sem folhas , de galhos estorcidos e secos (…).

Os Sertões é de 1902.

Deve-se ao sertão, com seus 11% no Nordeste, o aparecimento de muitos livros de nossa literatura que se tornaram clássicos, entre deles Os Sertões, do já citado Euclides da Cunha; Grande Sertão- Veredas, de Guimarães Rosa; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; O Quinze, de Rachel de Queiroz. É assunto deles, quase sempre, a secura do solo, as retiradas forçadas, a natureza que busca se defender tentando expedientes para reter a umidade; a flora e a fauna adaptadas a esse ambiente sumamente inóspito que é a caatinga.

Lê-se em Vidas Secas: “encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a caatinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos e os garranchos destorcidos, negros, torrados (…)

Vidas Secas foi publicado em 1942.

Os dois curtos textos aqui citados continuam preocupantes, mesmo sendo literatura, território da ficção.

Assim, inquieta esta informação da bióloga Rafaela Sousa em matéria sobre a caatinga ecológica: calcula-se que 40 mil km² da caatinga já foram transformados em quase deserto, o que é explicado pelo corte da vegetação para servir como lenha e pelo manejo inadequado do solo.

A caatinga, em visão um tanto amenizada, se apresenta ainda no belo poema Memórias do Boi Serapião, do poeta pernambucano Carlos Pena Filho (1929- 1930): “No verão, quando não há capim na terra / e milho no paiol/ solenemente mastigo/areia, pedra e sol (…)

A caatinga ainda se mostra “em cada poço que seca/ em cada árvore morta/ em cada sol que penetra/ na frincha de cada porta.” (…)

Assunto de numerosos livros em prosa, a caatinga tem proporcionado a muitos leitores de literatura a possibilidade de verdadeiro prazer estético.

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