Araras

23 de dezembro de 2022

Uma ilustração para colorir, um convite para saber um pouco mais

Associadas à rica diversidade da fauna brasileira, as araras fazem parte da família Psittacidae, que inclui, entre outras aves bastante conhecidas, papagaios, periquitos, maritacas. Consideradas, no entanto, as maiores representantes da família, elas se caracterizam por uma plumagem de coloração vistosa e variada, porte relativamente grande, cauda longa e um bico grosso, curvo e extremamente resistente, essencial para uma alimentação baseada, sobretudo, na ingestão de frutos, sementes e castanhas. Têm um importante papel ecológico, pois atuam como dispersoras de sementes, levando, assim, os frutos para longe da planta-mãe – ação fundamental para evitar a competição entre plantas em crescimento. Ademais, as cavidades que muitas delas fazem para botar seus ovos são posteriormente aproveitadas por outras espécies. Em geral, vivem muitos anos (podendo atingir a média de 50 anos de idade), costumam ser monogâmicas e não apresentar dimorfismo sexual. Encontram-se amplamente distribuídas em regiões tropicais, mas também podem ocorrer em zonas subtropicais ou frias. 

Antigas habitantes do território brasileiro, as araras já estavam aqui presentes antes mesmo da chegada dos europeus, tanto que suas penas eram comumente utilizadas nas artes plumárias de diversas etnias indígenas. Todavia, justamente a beleza do colorido de suas penas, aliada à constatação da fácil adaptação desses animais ao cativeiro, tornaram-nas alvo de interesse dos colonizadores. Submetida desde então a um extenso processo de exploração da natureza, a população de araras, assim como a de outros psitacídeos, foi sendo, ao longo do tempo, reduzida de forma drástica. Estima-se que cerca de 10 mil araras tenham sido capturadas e retiradas de seu habitat para fins comerciais até os anos de 1980 – década em que, aliás, as araras-azuis, a partir de levantamentos da época, foram incluídas no Apêndice I do CITES (Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo), no Red Data Book e na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção.

Dentre as espécies encontradas no país cujo status de conservação é classificado, pela IUCN (sigla em inglês de União Internacional para a Conservação da Natureza), como pouco preocupante, embora possa haver uma tendência atual de decréscimo populacional, estão: a arara-canindé, com penas azuis em seu dorso e amarelo-douradas em seu ventre, face e rabo, que ocorre nas regiões norte e centro-oeste, e na Bahia, Minas Gerais e São Paulo, sendo observada, inclusive, em algumas cidades como Campo Grande (MS); a arara-vermelha, com o predomínio de uma plumagem vermelha, mas com toques de azul-escuro, tons esverdeados, e a face branca, vivendo nas mesmas áreas da espécie anterior; e a ara-canga, caracterizada por um vermelho escarlate, com penas multicoloridas em amarelo e azul e a face creme sem penas, distribuída na Amazônia, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.

Já as araras azuis grandes, que se tornaram um dos símbolos da defesa e proteção do pantanal brasileiro, são consideradas em situação vulnerável, pela IUCN, e quase ameaçada, segundo o Ministério do Meio Ambiente (2018). Ocorrem no MT e MS, bem como no Amazonas e Pará e certas áreas nos estados do MA, BA, PI, TO e GO. Distinguidas por uma plumagem azul-cobalto, em degradê da cabeça para a cauda, e um amarelo intenso ao redor dos olhos, podem medir até 1 metro, constituindo assim a maior espécie da família Psittacidae existente no mundo. De uma coloração semelhante, em tons mais esmaecidos e outros detalhes distintos, há a arara-azul-de-lear, que se encontra no norte da Bahia, em uma região da caatinga, cujo status de conservação, conforme a lista da IUCN, é vulnerável à extinção, ou seja, em uma gradação mais grave em relação à espécie anterior. Em posição ainda mais crítica – de extinta na natureza (CITES I) – está a chamada ararinha-azul, endêmica do nordeste, cujos últimos indivíduos foram observados, no ano de 2000, no município de Curaçá, em uma das áreas mais secas da caatinga, no extremo norte da Bahia. Restaram, contudo, cerca de 60 deles, criados em cativeiro, resultado de uma estratégia de um grupo de estudo para a recuperação da espécie com reforços internacionais, coordenado pelo Ibama, além do apoio das ações do Projeto Ararinha Azul em Curaçá junto à população local, com vistas a futuras reintroduções. Completamente extinta, ou seja, sem nenhum indivíduo sequer localizado na natureza ou em cativeiro, tem-se a arara-azul-pequena, que ocorria no sul do Brasil, leste do Paraguai, oeste do Uruguai e norte da Argentina.

De acordo com o Instituto Arara Azul, criado em 2003 e referência no país em ações de pesquisa, monitoramento, projetos de conservação, de educação e divulgação dessas espécies, entre suas principais ameaças destacaram-se: a captura ilegal para comércio nacional e internacional de aves de estimação (notadamente e mais intensa na década de 1980); a destruição de habitat (por perda, descaracterização ou fragmentação), no Pantanal, sobretudo, com a implantação de pastagem cultivada, e, em demais regiões, em função da agricultura e colonização; a caça e a coleta de penas para artesanato indígena, proibidas desde 2005, exceto para cerimônias e demais usos restritos às reservas indígenas. No entanto, conforme amplamente divulgado, outros fatores de risco têm aumentado a vulnerabilidade não só das araras: as mudanças climáticas; os desmatamentos; o turismo não responsável, que utiliza animais silvestres como entretenimento; os graves incêndios, como os ocorridos no pantanal em 2019 e 2020, dizimando grandes áreas essenciais para as aves e demais animais. Como se pode notar, todo plano de conservação de biodiversidade, inclusive, o das araras, pressupõe ações efetivas e integradas em prol da proteção e recuperação de seus habitats, que envolvem várias frentes e vários grupos – poder público, equipes de especialistas interdisciplinares, patrocinadores, população local, ativistas, voluntários… –, diferentes perspectivas, norteadas, porém, por uma “visão” ambiental necessariamente comum.

Clique aqui para visualizar e baixar a ilustração.

Fontes consultadas:
https://www.institutoararaazul.org.br/
https://umsoplaneta.globo.com/opiniao/colunas-e-blogs/documenta-pantanal/post/2021/09/araras-azuis-na-natureza-antigas-resilientes-e-frageis.ghtml
https://brasilescola.uol.com.br/animais/arara.htm
https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2022/06/11/araras-e-ararinhas-nao-confunda.ghtml
http://www.invivo.fiocruz.br/biodiversidade/s-o-s-araras/

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