A resiliência demonstrada pela população gaúcha diante das recentes tragédias suscita o interesse em conhecer mais profundamente a essência desse povo, suas raízes culturais, linguagens e tradições. Neste sentido, torna-se imprescindível destacar sua Literatura, que, influenciada por sua localização no extremo sul do país, evoluiu de maneira única, retratando a história e origens do gaúcho, figura emblemática e representativa de nossa nação.
É observando o homem que vive nos pampas, nessa extensão de terra que parece não ter fim, cujo maior companheiro é o cavalo, que diversos escritores regionalistas pautaram suas criações. Pode- se dizer que muito do que essa literatura nos legou governa nossa visão sobre o Rio Grande do Sul (note-se o número de revoluções havidas no Estado, entre elas a Guerra dos Farrapos, sobre cujo enredo se criou uma das séries de maior sucesso na televisão, A casa das sete mulheres). É com esses personagens e sua história singular que o escritor da terra vai criar seus “heróis”, com sua grandeza e decadência. É o peão, o campeador, o estancieiro, é a extensão dos pampas…
Pode-se afirmar que fundamental para o incremento da literatura no Rio Grande do Sul foi o tempo em que transcorreu a Revolução Farroupilha, que levou adiante as conquistas da imprensa literária no Estado, iniciada no século XIX.
Foi nesse tempo que intelectuais gaúchos criaram em Porto Alegre a Sociedade Partenon, que durou de 1868 a 1880, mas fato decisivo para a literatura local foi a fundação da Associação Gaúcha dos Escritores, em uma assembleia geral realizada no dia 18 de novembro de 1981.
Essa Associação animou a produção de prosadores e poetas, incrementando a vida literária. Sabe-se da importância da vida literária; não fosse ela quantas obras deixariam de ser conhecidas?
Cremos que, para além de compêndios de história, a melhor e mais enriquecedora maneira de se acercar da alma do povo rio-grandense é ler sua literatura regional, seus poetas, ver o que os escritores da terra viram, viveram e imaginaram sobre ela.
Peca-se se deixar de citar o fundamental deles: Simões Lopes Neto, contista de Contos Gauchescos. Natural de Pelotas (1865-1915), é o autor que colocou o Rio Grande do Sul como berço do maior escritor regionalista do País.
Impossível também não mencionar Érico Veríssimo, nascido em Cruz Alta, RS, em 1905 e falecido em 1975. Sua trilogia O tempo e o vento é uma das principais obras da literatura brasileira, narrando a história do Rio Grande do Sul do século XVII ao XIX, com foco na Revolução Farroupilha.
É preciso lembrar que a literatura no Rio Grande do Sul teve portas abertas largamente no findar do século XIX.
Neste caminhar literário seguiu e segue um número muito grande de autores.
Lista com alguns, brevíssima: Luís Fernando Veríssimo, filho de Érico Veríssimo, um dos autores mais lidos do Brasil, sobretudo com O analista de Bagé; Dyonélio Machado, autor de Os ratos, romancista com excelente fortuna crítica; ainda Raul Bopp, poeta de Cobra Norato, com influxo forte do Modernismo de Mário de Andrade; Moacyr Scliar, também médico, nascido em 1937, em Porto Alegre. Escreveu mais de 70 livros. Entre eles vale destaque Max e os felinos; Augusto Meyer, poeta, tradutor, crítico arguto de Machado de Assis; Mário Quintana, poeta, prosador, jornalista. Publicou Novos Poemas, em que se encontra o antológico poema Bem-Aventurados: (…) Bem-aventurados os músicos…/E os bailarinos/E os mímicos/ E os matemáticos…/ Cada qual na sua expressão!
A história literária do Rio Grande do Sul abrigou e continua abrigando, desde o seu início, escritores regionalistas, poetas ligados ao simbolismo, ao parnasianismo, outros avançando com a ousadia trazida pela Semana de Arte Moderna de 1922 e, depois, já na década de 1950, fazedores da Poesia Concreta.
Como conhecer, de fato, a alma de nosso país sem saber da Literatura no RS criada?