Minas Gerais, pela sua história excepcional moldando o patrimônio cultural do nosso país, pelo esplendor a que chegou no século XVIII, quando se fixaram na história da arte Barroca nomes como Antonio Francisco Lisboa, apelidado Aleijadinho, e Franscisco Vieira Servas, entalhador e escultor de alto mérito, é natural que tenha no seu território, em capelas seculares, preciosidades, quase sempre malguardadas.
Então, nem deve causar admiração que até recentemente 730 peças sacras tenham sido levadas de suas igrejas, capelas e museus. E que, infelizmente, há pouca esperança de se descobrir o seu destino.
Minas Gerais é, nesse campo, o Estado mais flagelado, estando bem diante do Rio de Janeiro, Bahia, Paraná, em que nesses últimos 30 anos se registraram bastantes casos com repercussão na mídia.
A notícia publicada dia 9 de setembro último, em um jornal de Minas Gerais, de que tinha sido devolvida ao patrimônio sacro de Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte, uma peça furtada em janeiro de 1995 e localizada após denúncia por meio do Sondar (plataforma lançada em 2021, que reúne objetos mineiros desaparecidos, recuperados e restituídos), tem para a história da arte e para a religiosidade popular uma importância muito grande. Diferentemente de tantos outros relatos em que se narra tão só o fato do roubo, na menção deste retorno menciona-se o nome do provável escultor, Francisco Vieira Servas, português, nascido em 1720 e falecido em Minas Gerais em 1811. Servas é até hoje estudado como representante maior, depois de Antonio Francisco Lisboa, da arte barroca no Brasil. Obras dele enriquecem várias igrejas situadas no Circuito do Ouro, palco que assistiu a uma extraordinária produção de arte sacra entre os anos 1850 e 1860.
Toques de sinos, fogos de artifício e muita emoção houve em Sabará. Fiéis em grande número compareceram, entre eles integrantes da Ordem 3ª do Carmo, além de membros e servidores do MPMG- Ministério Público de Minas Gerais.
A muitos interessados e conhecedores de arte sacra e do Barroco mineiro esse retorno de Nossa Senhora do Carmo a Sabará foi festejado não apenas pelo seu significado religioso, mas também como o oportuno resgate de uma escultura de Francisco Vieira, Servas, salva do destino inglório de um leilão.