O Financial Centres for Sustainability – fC4S é uma rede global de centros financeiros que colabora para acelerar o crescimento de investimentos e finanças sustentáveis.
Fundado em 2017 sob os auspícios da ONU, o FC4S promove a integração de princípios de sustentabilidade nas práticas financeiras, facilitando a troca de conhecimento e experiências entre seus membros. A iniciativa busca alavancar o papel dos centros financeiros para apoiar a transição para economias mais sustentáveis e resilientes, alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Desde 2018, o FC4S divulga anualmente um relatório que trata da situação das finanças sustentáveis nos diferentes países nela representados. O relatório referente ao ano-base 2023 trouxe resultados desalentadores, tanto no geral quanto para o Brasil, que é representado no órgão pelo Laboratório de Inovação Financeira (LAB), uma iniciativa que visa a fomentar a inovação no mercado financeiro, com foco em finanças sustentáveis e de impacto. Criado em 2017, é coordenado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), reunindo atores do setor financeiro e organizações da sociedade civil para desenvolver soluções financeiras inovadoras que contribuam para o desenvolvimento sustentável do país.
O relatório inicia destacando que, a meio caminho para a Agenda 2030, o progresso global estagnou ou retrocedeu devido às crises climáticas, à COVID-19, ao aumento do custo de vida e a conflitos persistentes. Apenas 12% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão de acordo com a trajetória projetada, enquanto quase metade está significativamente atrasada e 30% regrediram. Seria possível financiar a realização dos ODS com uma pequena parcela da riqueza global – e é esse o objeto a que se dedica o FC4S.
Algumas das principais conclusões obtidas pelo levantamento (considerando-se que apenas 26 dos 42 membros da rede preencheram os questionários) foram:
1. Persistência de dificuldades quanto a dados não financeiros: Informações consistentes, comparáveis e confiáveis relacionadas à sustentabilidade são essenciais para integrar a sustentabilidade na tomada de decisões financeiras. Contudo, apesar de ter havido avanços, a qualidade e a disponibilidade dos dados permanecem como os principais desafios (53% dos participantes do mercado não estão em conformidade com as recomendações da TCFD).
2. Priorização da criação conjunta de um ambiente propício: Houve aumento da implementação de regulamentações de divulgação climática/ambiental e padrões que regem títulos verdes, sociais, sustentáveis e de transição; os centros financeiros enfrentam desafios quanto a marcos regulatórios e no que se refere a incertezas políticas, enfatizando a necessidade de uma implementação vigorosa das políticas aplicáveis. Esforços colaborativos com formuladores de políticas e reguladores são cruciais para desenvolver padrões e diretrizes para finanças sustentáveis.
3. Superação do gap de conhecimento: Há uma disparidade significativa na educação em finanças sustentáveis entre economias de alta renda e economias de média/baixa renda, mas promover a troca de conhecimentos e parcerias pode ajudar a preencher essa lacuna, fomentando um cenário financeiro mais inclusivo.
4. Oportunidade de Crescimento Contínuo do Mercado de Dívida Sustentável: Entre os membros do FC4S, o funding sustentável representa apenas 2,6% do mercado global, indicando potencial de crescimento. As bolsas de valores representam um papel central no avanço das finanças sustentáveis, especialmente m economias em desenvolvimento. Para desenvolver esse mercado, é essencial abordar as disparidades no que se refere a iniciativas de finanças sustentáveis.
5. Papel ativo dos atores do mercado na transformação do sistema financeiro: as instituições financeiras são agentes-chave das finanças sustentáveis e assumiram compromissos significativos, e a transparência e credibilidade dos planos de transição são vitais para que esses compromissos se concretizem. O avanço das finanças sustentáveis depende fundamentalmente da identificação de oportunidades de investimento e do estabelecimento de mecanismos de financiamento inovadores.
O desempenho do LAB e do Brasil, embora tenha melhorado em relação à edição anterior do relatório, deixa a desejar. Alguns indicadores dignos de nota foram:
O Centro Financeiro identifica a «conectividade internacional» como uma área chave para melhoria, recomendando cooperação formal com outros centros em finanças sustentáveis através de workshops, conferências e parcerias acadêmicas. Além disso, sugere a participação ativa em consultas internacionais, como as da IFRS e ODS. (score Brasil x mediana geral: 1 x 5)
Embora o desempenho na transição para uma economia de baixo carbono seja bom, recomenda-se incentivos à mensuração e divulgação de metas para essa transição. (score Brasil x mediana geral: 4 x 4)
É essencial aumentar a ambição climática devido à diferença entre as NDCs atuais e a trajetória necessária para limitar o aquecimento global. Para isso, é preciso desenvolver requisitos financeiros para mitigação e adaptação e fortalecer o documento de política de net-zero com mecanismos de governança claros. (score Brasil x mediana geral: 2 x 3)
Apenas uma das cinco maiores gestoras de ativos (assegt managers) cessou investimentos em empresas que se dediquem a extração de carvão, geração de eletricidade a partir do carvão, ou extração de outros combustíveis fósseis e apenas uma das cinco maiores seguradoras deixou de segurar empresas nesses setores.
Apenas uma das cinco maiores seguradoras assumiu compromisso formal de ampliar a disponibilidade de apólices contra impactos na soluções de seguros voltadas para os aspectos de sustentabilidade ambiental, social e econômica. E nenhuma delas estabeleceu metas quantitativas para esses compromissos
Nenhum dos dez maiores bancos e nenhum dos cinco maiores investidores institucionais estão alinhados com metas carbon-neutral para 2050.
Relatório completo: https://bit.ly/3R9WmDc
Relatório individualizado do LAB: http://labinovacaofinanceira.com/wp-content/uploads/2024/06/Financial-Innovation-Laboratory-Personalised-Report-2024.pdf