Museu Paraense Emílio Goeldi: referência para assuntos amazônicos

30 de abril de 2024

Em nossa última Newsletter, inauguramos a série de matérias dedicadas à cidade de Belém, situada no coração do Pará, que será a anfitriã da aguardada COP30, em 2025. Este encontro se reveste de vital importância para o Brasil, uma vez que colocará o bioma amazônico na linha de frente do debate global sobre as mudanças climáticas, mas também pelo fato de que, nas deliberações previstas, serão estabelecidas as novas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs, em inglês). 

No primeiro texto, traçamos um perfil histórico sobre a formação do município de Belém e suas influências. Desde sua fundação, Belém foi marcada por uma mistura de culturas, uma vez que sua ocupação se deveu à estratégia de expansão do império ibérico nas Américas. A cidade cresceu ao longo dos séculos, vivenciando importantes ciclos econômicos, incorporando elementos da cultura dos povos originários, dos colonizadores europeus e dos escravos africanos em sua arquitetura, gastronomia e tradições locais. Contudo, conforme ressaltado em histórico anterior, a partir da década de 1960, Belém não deixou de sofrer com as agruras estabelecidas por padrões predatórios de modernização, assim como as demais cidades brasileiras, que descaracterizam a paisagem, suprimem a memória e o passado, e agravam as desigualdades.

No texto de hoje, apresentamos um breve histórico do Museu Paraense Emílio Goeldi, importante patrimônio histórico e cultural do nosso país. Incorporado desde o ano 2000 ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o museu é o primeiro parque zoobotânico do Brasil e o segundo museu de história natural brasileiro. Destaca-se por sua contribuição para a pesquisa científica e conservação da biodiversidade amazônica com um acervo diversificado de espécimes vivos e coleções científicas, além de ser um centro de referência para assuntos amazônicos e para a educação ambiental.

O ano era 1866 quando nascia na cidade de Belém, capital da então Província do Grão Pará, a Associação Philomática (amigos da ciência), que se tornaria o embrião para a implantação do Museu Paraense Emílio Goeldi. A idealização por trás desta iniciativa foi do jornalista e também político Domingos Soares Ferreira Penna. Natural de Minas Gerais, Ferreira Penna era um naturalista “extasiado pela natureza do lugar”, pelo povo e diversidade da região. 

“A sugestão para a fundação do Museu partiu dos deputados da Câmara Provincial, Dr. Joaquim Corrêa de Freitas e José Joaquim de Assis, os quais em outubro de 1861 apresentaram um projeto de Aditivo à Lei do Orçamento da Província para 1862,  destinando a verba de 600 mil-réis a fim de o governo criar um Museu de História Natural. Tal aditivo fez parte da Lei n° 396 de 30 de outubro daquele ano, sancionada pelo Presidente da Província Francisco Carlos de Araújo Brusque”. Embora o projeto tenha ficado esquecido pelos governos posteriores, coube, mais uma vez, a Ferreira Penna ressuscitar a ideia do museu e estruturar o seu projeto até a primeira reunião de diretoria, que aconteceria no dia 6 de outubro de 1866. 

Além de cumprir os requisitos essenciais de um museu, com suas seções técnicas e biblioteca especializada, cuja finalidade era o estudo da natureza amazônica, com sua geologia, rochas, minerais, e do homem indígena amazônico, o Museu ainda exerceria o papel de uma academia de cunho científico, suprindo uma lacuna de instituições desse caráter no Brasil. 

Durante o período do Império, o Museu enfrentou uma série de infortúnios, culminando com o seu fechamento no início de 1888. Contudo, graças às diligentes iniciativas republicanas este importante marco cultural do nosso país foi reinaugurado no dia 13 de maio de 1891. 

Para levar a cabo a nova fase do Museu, que almejava aprimorar a pesquisa científica, em fins de 1893 o zoólogo suíço-alemão Dr. Emílio Augusto Goeldi, que havia sido demitido do Museu Nacional, aceitou o convite do governador do Pará, Lauro Sodré, para assumir a direção do Museu. Com sua administração, a instituição foi estruturada de acordo com as normas de museus de história natural, assim como foram constituídas equipes de cientistas e técnicos. Em 1895, instituiu-se o Parque Zoobotânico, com a finalidade de exibir a diversidade da fauna e flora regionais para fins educacionais e recreativos da população. Posteriormente, em 1896 deu-se início à divulgação do Boletim Científico.

Sob a administração de Goeldi, o Museu conquistou respeito internacional em razão do desenvolvimento de pesquisas geográficas, geológicas, climatológicas, agrícolas, faunísticas, florísticas, arqueológicas, etnológicas e museológicas. Em 1907, o cientista se afastou da direção do Museu.

Outros importantes cientistas contribuíram com o desenvolvimento do Museu, como o botânico suíço Jacques Huber, que dirigiu a instituição a partir da saída de Goeldi, ficando até 18 de fevereiro de 1914, quando veio a falecer; além da ornitóloga alemã Emília Snethlage, que assumiu a direção após a morte de Huber, tendo sido a primeira mulher a dirigir uma instituição científica na América do Sul. Ela ficou no cargo até 1921. 

Em sua história, a instituição vivenciou inúmeras fases, partindo de períodos de grande ascensão até momentos de declínio. Em sua evolução, obteve a contribuição de eminentes cientistas e pesquisadores.

Atualmente, conta com coleções biológicas (botânica e zoologia); humanas, com acervos etnográficos, arqueológicos e linguísticos; fósseis, minerais, rochas e solos (paleobotânica, paleovertebrados, paleoinvertebrados, microfósseis e soloteca); palinologia; e documentais (arquivo Guilherme De La Penha) e Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna. 

Fontes consultadas:
LA PENHA, Guilherme M. de (vários autores). Museu Paraense Emílio Goeldi – São Paulo: Banco Safra, 1986. 
https://www.gov.br/museugoeldi/pt-br
https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Goeldi#:~:text=O%20Museu%20Paraense%20Em%C3%ADlio%20Goeldi,no%20munic%C3%ADpio%20brasileiro%20de%20Bel%C3%A9m%20(
Crédito da imagem: Wikimedia commons

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