Fogo, fumaça e pactos marcaram as duas últimas semanas de agosto. A região amazônica enfrenta a mais severa estiagem das últimas duas décadas, resultando numa preocupante escalada no número de incêndios florestais. A situação demanda um reforço adicional dos governos para lidar com a emergência e apoiar as localidades mais afetadas. Além disso, o Pantanal também enfrenta uma crise, com um período prolongado de estiagem que resultou na devastação por incêndios de cerca de 2,3 milhões de hectares nos últimos três meses.
No último fim de semana, o Estado de São Paulo vivenciou um número sem precedentes de incêndios florestais, culminando em uma situação bastante alarmante, com a declaração, por parte do governo estadual, de situação de emergência em 45 municípios. Uma série de municípios foi envolta em densas camadas de fumaça, impondo danos consideráveis, particularmente ao setor agrícola. A natureza dos incêndios, uma vez que inúmeros focos surgiram em um curto período e em áreas distantes, e a detenção de indivíduos enquanto incendiavam áreas sugerem uma possível origem criminosa desses eventos, exigindo investigações minuciosas por parte das autoridades competentes.
Apesar de potenciais atividades criminosas que possam estar na origem dos desastres recentes, sobretudo em terras paulistas, em uma era marcada pelas mudanças climáticas, torna-se imperativo o emprego do manejo integrado do fogo. Este enfoque é essencial para mitigar tais crises, como estabelece a recém-promulgada Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (Lei 14.944, de 31 de julho de 2024). Esta legislação preconiza um regime colaborativo envolvendo a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, além da sociedade civil e do setor privado, consolidando a gestão do fogo como um dever compartilhado.
Esses inquietantes eventos certamente aceleraram a divulgação, na última quarta-feira (28) pelo setor empresarial, do “Pacto Econômico com a Natureza”. Com a participação de 52 influentes empresários, o documento destaca a necessidade iminente de adaptar hábitos e processos para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Ele também manifesta ao governo federal a prontidão do setor privado para colaborar com políticas voltadas ao desenvolvimento econômico sustentável. Este manifesto sucedeu a divulgação, uma semana antes, do “Pacto pela Transformação Ecológica”, uma aliança entre os três poderes que visa à promoção de ações conjuntas em prol da sustentabilidade ecológica, do progresso econômico responsável e da equidade social, ambiental e climática.
Ainda em agosto, tive oportunidade de acompanhar, ainda que virtualmente, uma série de debates do evento “USP Pensa Brasil” e gostaria de destacar um ponto que me chamou a atenção e que gostaria de trazer aqui como uma reflexão, que foi mencionado pelo professor Alexandre Saes, que apresentou o resultado do Censo Usp Sustentabilidade, em que, ao final, ele mencionou que a pauta ambiental representa a agenda central da sociedade no século 21. De acordo com ele, […] “numa sociedade de múltiplas crises como a nossa, tais como a dimensão da polarização política, das representações culturais, religiosas, dos impasses em como lidar com as políticas econômicas e a desigualdade social, parece que o meio ambiente é possivelmente uma das pautas que podemos produzir e utilizar para criar uma certa coesão em um projeto de humanidade no médio e longo prazo…”
Édis Milaré