Dia da Sobrecarga da Terra

31 de August de 2022

Mensurado desde a década de 1970, trata-se de um indicador que busca marcar o momento em que a humanidade esgota os recursos biológicos que a Terra é capaz de regenerar ao longo de determinado ano. Concebido por Andrew Simms, do think tank britânico New Economics Foundation, passou a ser objeto, em 2006, de uma campanha global anual promovida pela GFN – Global Footprint Network, uma organização sem fins lucrativos voltada a pesquisas sobre recursos naturais e maneiras sustentáveis de combate às mudanças climáticas. A partir de 2007, a WWF – World Wide Fund for Nature, outra renomada organização internacional que atua nas áreas de conservação, investigação e recuperação ambiental, tornou-se parceira do Dia da Sobrecarga da Terra.

Para determinar a data, a Global Footprint Network utiliza como parâmetro a Pegada Ecológica, um método de contabilidade ambiental que mede a demanda em relação à oferta de bens e serviços ecossistêmicos, de acordo com a capacidade que o Planeta tem de se regenerar. Ou seja, o cálculo se baseia na divisão da biocapacidade do Planeta (a quantidade de recursos ecológicos que a Terra consegue gerar em certo ano) pela Pegada Ecológica (a demanda da humanidade para o mesmo ano), cujo resultado é multiplicado pelos 365 dias do ano. Vale lembrar que tanto a Pegada Ecológica quanto a biocapacidade são expressas em hectares globais, padronizados globalmente e comparáveis com a produtividade média mundial, de modo que cada pegada, seja de um país, seja de um estado ou mesmo de uma cidade, pode ser dimensionada em relação à sua própria biocapacidade e à do mundo: se a pegada de uma população excede a biocapacidade da região, considera-se que tal região tem um déficit ecológico; se, ao contrário, a biocapacidade excede a pegada, a região possui então uma reserva de biocapacidade. De acordo com os dados das Contas Nacionais de Pegada e Biocapacidade, estima-se que, hoje, mais de 80% da população mundial vivem em países com déficits ecológicos.

De todo modo, pelos cálculos realizados pela GNF, em termos mundiais, o Dia de Sobrecarga da Terra tem chegado cada vez mais cedo, corroborando todos os demais índices científicos que apontam igualmente para o agravamento do processo de destruição ambiental. Na linha cronológica, a data, que costumava cair em dezembro nos primeiros anos de 1970, passou para novembro a partir da década de 1980, para outubro, em 1990, para setembro, nos anos 2000, e agosto, em 2010. Em 2019, ela foi registrada em 29 de julho, sofrendo um recuo significativo em 2020, quando ocorreu em 22 de agosto, por conta da pandemia, sobretudo com a interrupção de setores produtivos, de transporte e as demais medidas de isolamento, que representaram uma considerável, porém provisória, redução das emissões de carbono naquele ano. Tanto que em 2021 a data voltou a cair em 29 de julho, demonstrando que não houve transformações relevantes nos padrões de consumo humano. Segundo a GFN, o limite dos recursos naturais renováveis neste ano de 2022 foi alcançado em 28 de julho, antecipando um dia em relação ao ano anterior. Isto quer dizer que seria necessária uma biocapacidade de 1,75 planetas Terra para atender ao que a humanidade exige atualmente da natureza. Alerta-se ainda para o fato de que 60% da pegada ecológica mundial advêm das emissões de carbono, lembrando que, para controlar as mudanças climáticas, estas precisariam ser reduzidas a zero antes de 2050. E, não menos importante, evidencia-se que o impacto deste processo de superexploração da natureza não só se dá de maneira desigual,como aprofunda as desigualdades, inclusive na segurança alimentar: cerca de três bilhões de pessoas vivem em países que produzem menos alimentos do que consomem e geram menos renda do que a média mundial.

No Brasil, um dos países que, de acordo com os dados das Contas Nacionais de Pegada Ecológica, ainda possuem reserva de biocapacidade, dada a sua rica biodiversidade, o Dia da Sobrecarga caiu, neste ano, em 12 de agosto, ou seja, com uma diferença de 15 dias em relação à data no mundo. Uma pequena e relativa “vantagem” que, se, por um lado, expressa o importante ativo que o país representa para uma economia mundial verde, orientada por um desenvolvimento sustentável integrado e global, por outro, expõe a urgência que a ampliação de soluções e ações, coletivas e individuais, públicas e privadas, locais e regionais, de preservação ambiental (e de inclusão social) assume no vasto território nacional. Entre outros desafios, o Brasil ainda tem registrado altos índices de desmatamentos e queimadas em alguns de seus biomas que desempenham um importante papel na captura de carbono – função ecológica, como se sabe, de essencial monta no contexto planetário das mudanças climáticas.

Fontes consultadas:
https://www.wwf.org.br/overshootday/
https://www.overshootday.org/
https://www.footprintnetwork.org/
https://conexaoplaneta.com.br/blog/dia-da-sobrecarga-da-terra-em-2022-ja-usamos-75-a-mais-dos-recursos-naturais-do-que-o-planeta-pode-regenerar/

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