DIA 5 DE JUNHO – DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Tema: Editorial

30 de junho de 2021

Editorial

Um assunto que repercutiu na última semana nas redes sociais me chamou a atenção e me fez refletir sobre questões intergeracionais, geralmente muito pertinentes para quem atua na área ambiental. Trata-se do termo “cringe” que, pelo que pude apurar, é uma gíria da língua inglesa e que vem sendo empregada para descrever “situações constrangedoras”, ou melhor, na nossa linguagem popular seria algo como “pagar mico”. Mas para os influencers que fomentaram essa discussão na Internet até a própria expressão “pagar mico” já configuraria “cringe”, por ser um termo pouco usual nos dias de hoje.  

A polêmica em torno disso surgiu entre representantes das gerações Y (Millennials) e Z e suscitou as mais variadas manifestações e até mobilizou o portal Migalhas a instigar seus seguidores no Instagram a responder sobre o que é “cringe” na advocacia. E, “pasmem”, alguns comentários perpassam várias gerações, como o “juridiquês”, ou melhor, o excesso de termos jurídicos, que tem sido bastante criticado há muitos anos até mesmo no ambiente jurídico acadêmico, e que foi mencionado como “cringe” no questionamento do portal jurídico. A formalidade da área jurídica, o apego à tradição, a existência ainda de processos físicos e até mesmo gostos pessoais, característicos de alguns ambientes jurídicos, também foram considerados “cringes”, entre outros. 

Embora considere importante ter um sentimento de identidade e essas discussões talvez revelem isso, entendo que em um mundo globalizado, diverso e cada vez mais conectado a redes, as questões das identidades tendem a estar permanentemente em  transformação, daí a necessidade de estarmos abertos a todas as formas de existir, e acompanharmos os pensamentos, os gostos, os movimentos, as atitudes, as escolhas do nosso coletivo, sobretudo das novas gerações, pois, sem sombra de dúvidas, serão elas que deverão influenciar e até determinar os rumos das políticas ambientais em todo o mundo.  

Dada a importância dessas novas gerações para o futuro do planeta, elas vêm sendo alvo de diversos estudos pelo mundo. No último dia 18, o jornal Valor Econômico divulgou uma pesquisa realizada pela Delloite em fevereiro deste ano com indivíduos das gerações Y e Z, oriundos de 45 países, para avaliar a percepção deles sobre os desafios mundiais. No Brasil, em virtude do impacto da pandemia e dos nossos cruciais problemas, “o desemprego, a saúde e a segurança” foram apontados como as principais preocupações desses públicos, mas na “média global a saúde foi a principal preocupação apontada por 28% dos millennials, enquanto questões climáticas e de meio ambiente” foram citadas como uma preocupação para 26% da geração Z. Ainda, de acordo com a pesquisa, “a geração Z já vinha demonstrando grande preocupação com essa questão climática e, neste ano, permanece no topo de agenda”. Como descrito pelo coordenador da pesquisa, as preocupações com as questões ambientais estão relacionadas à agenda ESG, tendo em vista que as novas gerações analisam essa pauta para “entender com quais empresas gostariam de se relacionar, tanto no aspecto do consumo quanto do emprego” e avaliando o que elas estão fazendo para contribuir com um mundo mais sustentável e equitativo.

Assim, arriscando uma interpretação do que poderia ser “cringe” para essas novas gerações em relação às pautas ambientais, não estar atento às principais temáticas da área poderia integrar o rol desse termo.  

No mês em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, muitos acontecimentos agitaram a área governamental brasileira, culminando com a saída do ministro e a nomeação de outro para a pasta. Esperamos que essas mudanças propiciem uma fase mais auspiciosa e que a área ambiental brasileira possa recuperar o seu protagonismo no contexto internacional. 

  Édis Milaré

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