Não foi o El Niño 

31 de janeiro de 2024

Desde meados de 2023, a Bacia Amazônica (BA) encontra-se em um estado de seca excepcional, impulsionado pela baixa precipitação e temperaturas consistentemente elevadas. Os níveis do rio são os mais baixos em 120 anos, com severas consequências para dezenas de milhões de habitantes nos diversos países que compartilham a floresta e para a fauna e flora que ela abriga. O impacto também se estende para além da região imediata, uma vez que usinas de geração de extrema importância para os países afetados se encontram na BA. 

O World Weather Attribution – WWA é um coletivo acadêmico que se dedica ao estudo das causas de eventos climáticos extremos, recorrendo a modelos computacionais que determinam a probabilidade de que a causa desses eventos esteja na mudança climática antropogênica – e não em fenômenos naturais. Em estudo recentemente divulgado, concluiu que a recente seca amazônica está muito provavelmente associada ao aquecimento global causado pelo homem e não, como sugerem algumas fontes, ao El Niño.

Uma seca pode ser medida de diferentes formas e uma das principais leva em conta o volume de precipitação, por um lado, e a perda de água por evaporação, por outro. Os cálculos da entidade adotaram essa abordagem para revelar que, ausente o El Niño (ou seja, com um volume de chuvas dentro da média histórica), a intensidade do fenômeno teria sido praticamente a mesma. Por outro lado, com temperaturas médias 1,2oC mais baixas, independentemente do volume de precipitação, a perda de umidade teria sido significativamente menor.

Conclui-se, assim, que não se pode responsabilizar o El Niño, um fenômeno natural e cíclico, pela seca que a região enfrenta. Por outro lado, o aquecimento global  teve peso considerável nos resultados observados. 

A combinação de chuvas fracas com perda de água para o calor fez com que a região deixasse de recompor devidamente seu estoque hídrico. Se condições como as observadas em 2023 se tornarem recorrentes, os efeitos poderão ser irreversíveis, com redução do nível do lençol freático e perda de cobertura vegetal – o que irá alimentar a elevação das temperaturas, formando um círculo vicioso. Estudos como o recentemente divulgado pelo WWA não devem ser tomados como motivo para pânico (pelo menos por enquanto), mas como alerta para uma urgente correção de rota.

Referências
https://www.worldweatherattribution.org/climate-change-not-el-nino-main-driver-of-exceptional-drought-in-highly-vulnerable-amazon-river-basin/
https://www.wwf.org.br/?87423/COP28-Extreme-drought-in-the-Amazon-could-worsen-even-further-in-2024
https://www.bbc.com/news/science-environment-68032361

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