De origem tupi-guarani, a palavra caatinga, cujo significado “mata branca” alude ao aspecto que a vegetação assume nos períodos de seca ao se desfolhar quase completamente para diminuir ou evitar a perda da água armazenada, nomeia aquele que é considerado um bioma exclusivamente brasileiro. Recobrindo cerca de 11% do território nacional, abrange grande parte dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe, além do norte de Minas Gerais, e constitui uma das mais complexas biodiversidades existentes num clima semiárido. Seja na flora, seja na fauna, a caatinga distingue-se pela capacidade de adaptação de suas espécies, muitas delas endêmicas, às condições adversas que lhe são características (altas temperaturas, regime irregular de chuvas, solos áridos, pouco permeáveis, rios, na maioria, intermitentes).
Essa notável adaptabilidade não exclui, no entanto, a grande vulnerabilidade a que se encontra exposto tal bioma. Daí a data de 28 de abril, instituída como o Dia Nacional da Caatinga por decreto federal em 2003, marcar não apenas a importância de um rico e heterogêneo patrimônio biológico cheio de potencialidades – contrapondo-se a uma imagem limitada de sertão associada apenas à escassez –, mas a urgência de uma série de ações sistemáticas de preservação capazes de responder ao impacto de um longo e contínuo processo de degradação ambiental que lhe tem sido infligido.
O desmatamento excessivo para pastagens e agricultura, a extração insustentável de lenha e carvão vegetal para fins energéticos, o sobrepastoreio de caprinos e bovinos, a monocultura, a urbanização desordenada concorrem não só para o risco de extinção cada vez maior de muitas espécies vegetais e animais (a exemplo do tatu-bola, da ararinha-azul, da onça pintada, etc.) como para o agravamento da degradação dos solos em crescente processo de desertificação.
O Dia Nacional da Caatinga recoloca, portanto, a premência da ampliação da rede de Unidades de Conservação bem como a melhoria na gestão (seja na infraestrutura, seja na fiscalização) das áreas de proteção já existentes, além da intensificação das ações educativas ambientais, interligando, assim, o poder público, as instituições de pesquisa, as comunidades, os agentes econômicos, que interferem na conservação de uma região da qual todos no Brasil – mas não só, sob o ponto de vista do equilíbrio ambiental – dependem.
Ademais, na Caatinga, as questões ambientais e sociais se justapõem de um modo inequívoco, até porque se trata de um território densamente povoado, onde ainda vivem cerca de 27 milhões de pessoas que estão entre as mais carentes e desassistidas do país. A vulnerabilidade ambiental que se traduz, necessariamente, em vulnerabilidade humana no semiárido brasileiro, deixa patente que as políticas públicas, as atividades de pesquisa e monitoramento, as ações educativas e comunitárias precisam ser orientadas, organizadas e difundidas levando-se em conta uma complexa rede de sustentabilidade hídrica, alimentar e energética. Sem o manejo sustentável, ou seja, sem uma forma adequada de exploração da Caatinga que permita sua recuperação, regeneração, recomposição, não há como se proteger um ecossistema único e riquíssimo – gerador de inúmeros benefícios econômicos, sociais e ambientais – e que está sob grave ameaça.
Fontes consultadas:
https://www.letrasambientais.org.br/posts/caatinga:-um-dos-biomas-menos-protegidos-do-brasil
https://cepan.org.br/estudo-aponta-que-cerca-40-da-caatinga-foi-destruida-e-20-esta-em-processo-ou-suscetivel-a-desertificacao/
https://www.acaatinga.org.br/sobre-a-caatinga/
https://www.fundaj.gov.br/