Nossas festas juninas estão se adaptando às transformações do perfil da sociedade, o que é extremamente positivo, tornando-as mais acessíveis a diversos públicos, especialmente para aqueles que as consideravam antigamente uma celebração apenas de cunho religioso. Em muitas situações, elas vêm ganhando novas feições, tornando-se mais abrangentes, até batizadas com outros nomes, mas o mais importante de tudo isso, na nossa visão, é que elas vêm se mantendo em nossas vidas como importantes manifestações culturais, uma vez que já são reconhecidas como tais pela Lei Nº 14.555/2023.
Com a diversificação das programações espalhadas em diversas regiões, com apresentações de shows, comidas típicas, danças, disputa de quadrilhas, entre outras, elas se tornaram eventos que promovem entretenimento, movimentam as economias locais, geram emprego e renda e integram o calendário do turismo em nosso país.
No entanto, concomitantemente com as celebrações do mês, somos confrontados com episódios extremamente alarmantes no Pantanal – bioma que sofreu intensificação de incêndios nos últimos dias e cuja área queimada neste ano já supera 688 mil hectares, de acordo com informações do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
É ainda preocupante a informação de que nas recentes incidências de incêndios não se observam sinais de causas naturais implicadas, mas se verifica a presença da ação humana, conforme monitoramento divulgado pelo Inpe e o LASA. Dados também divulgados nesta semana pelo MapBiomas reforçam a muito preocupante situação da região, uma vez que o bioma foi o que mais secou em trinta e oito anos.
Examinando-se os vários aspectos dessa agressão ao nosso patrimônio ambiental, vê-se que diversos são os fatores que contribuíram para essa deterioração, incluindo elevação de temperaturas e alterações nos padrões de precipitação, uso do solo, eventos climáticos extremos, entre outros, os quais exigem implementação de medidas urgentes e transformações substanciais para evitar agravamento da crise.
De qualquer jeito, apesar das ações emergenciais que estão ocorrendo atualmente na região por parte dos gestores públicos e de inúmeras entidades da sociedade civil, imagens chocantes deste mês, como a de um jacaré carbonizado e uma festa junina em Corumbá (MS) tendo como cenário de fundo chamas devastadoras, reforçam a gravidade da situação e ainda persistem em nossa memória.
E os desafios da reconstrução do Rio Grande do Sul continuam, mas destaco aqui a importância do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do Plano Rio Grande, que reúne profissionais com vasta experiência em clima, meio ambiente e hidrologia e que certamente contribuirão com soluções emergenciais e com propostas para médio e longo prazos.
A despeito de tudo isso, deposito grande esperança na juventude atual, que demonstra uma crescente preocupação com a saúde ambiental do nosso planeta. Acredito que essa nova geração está consciente dos desafios que temos pela frente para construir um futuro mais sustentável.
Com a intenção de nutrir o nosso espírito com o poder da literatura, compartilho este link (https://www.youtube.com/watch?v=QFgU8RRIvNQ), o qual conduz a um mini-documentário sobre Adélia Prado, nossa estimada poetisa, e que foi produzido pelo Festival de Poesia de Lisboa.
Recentemente laureada com o Prêmio Camões de 2024 e o Machado de Assis, ela declama o poema “Momento”, cujo desfecho nos presenteia com uma reflexão marcante: “A vida é mais tempo alegre do que triste”. Vale a pena conferir.
E que venham as nossas medalhas olímpicas…..
Édis Milaré